Você consegue imaginar esta cena?!
O casalzinho já está se relacionando há algum tempo. Já dormiram juntos muitas vezes e foi ótimo.
A mocinha, apaixonada, declara-se: ”eu te amo tanto! E você? Você também me ama”?
Responde o rapaz: “É, … preciso pensar no assunto”.
Fala sério; é um tremendo banho de água fria!
O que poucos profissionais entendem é que um processo de seleção é um jogo de sedução, cujo objetivo não é o de conquistar a donzela, mas de efetuar uma venda pessoal. Claro que a expectativa não é a de uma venda esfuziante, vivaz e agressiva, mas caracterizada por ponderação, seriedade e objetividade e que, ao final, termine solicitando o emprego.
Outro aspecto a levar em conta é o cuidado na formulação das frases e das suas ideias, mantendo a ótica do seu interlocutor. Para isso, antes de falar, pense em como ele poderá interpretar suas palavras? Há algum risco de um mal entendimento?
Em comparação com o diálogo inicial mocinha x rapaz, que ilustra o início desta matéria, imagine que ao final da entrevista um candidato (vamos chama-lo de Candidato A) diga algo do tipo: “eu agradeço pelo tempo que me dedicou e acho que temos muito no que pensar sobre o assunto daqui para frente”. Tem o aspecto de uma frase neutra, sem compromisso.
Outro candidato (doravante denominado Candidato B), no mesmo processo, termine a entrevista com a frase: “Eu agradeço muito pela oportunidade de nos conhecermos e quero dizer que estou convencido de ser esta a oportunidade exata para mim”. Igualmente, uma frase neutra.
Como, entretanto, ao decodificar a neutralidade das frases, irá o entrevistador interpretar cada uma delas? O que vai valer desse ponto em diante são as percepções. Para o entrevistador, o Candidato B está muito interessado na oportunidade. Já o Candidato A está relutante e quer um tempo para pensar sobre o assunto antes de se decidir.
De nada adianta o Candidato A dizer que foi mal compreendido e que, em hipótese alguma, pretendeu dar a impressão de estar relutante. Não adianta nada pois ele nunca terá a oportunidade de se explicar e de desfazer o equívoco.
O Candidato A pode até mesmo fazer a análise sintática de sua frase para demonstrar que a mesma não contém nenhum indício de relutância (já fizeram isso comigo!). Tudo isso será inútil, pois ele não terá a oportunidade de voltar ao contato com o selecionador para esclarecer as suas intenções ao soltar a frase fatídica.
Resultado: o selecionador comentou que os dois candidatos eram ótimos, mas decidiu que a vaga ficou com o Candidato B!
Assim como estas, dezenas de outras situações semelhantes repetem-se no cotidiano das pessoas, que não se mantém em alerta para o eventual conflito entre o significado do que dizem e aquilo que pretendem dizer.
Na grande maioria dois casos não decorrem sequelas, pois quase sempre é possível reformular a frase e corrigir a interpretação da mesma.
Nunca, entretanto, num processo de seleção, pois nesse nunca há a segunda chance.
Tudo que havia de importante a ser dito e que o profissional esqueceu de dizer, ele não terá como reabrir a entrevista para complementá-la.
Todo o conceito que dê margem para interpretações dúbias não poderá ser esclarecido. Todo mal entendido, vai permanecer como está.
Para não correr riscos, sempre termine uma entrevista com o equivalente ao “eu também te amo”, dizendo, com suas palavras, “estou muito interessado nessa oportunidade”.