Post Life Transitions Não Ouvir
Post Life Transitions Não Ouvir

NÃO OUVIR, UMA DOENÇA DOS GESTORES

Este foi um post publicado originalmente em 2016 (A SÍNDROME DO NÃO OUVIR), mas continua atual ….

A incapacidade de ouvir é a doença profissional dos gestores.

Ouvir é um processo mediante o qual a pessoa recebe uma mensagem, absorve o seu significado e reage através de uma resposta verbal ou não verbal.

Dedicar-se genuinamente a ouvir o interlocutor é uma demonstração de respeito, preocupação, empatia, compaixão, curiosidade, confiança, lealdade, reconhecimento da importância do outro e, principalmente, humildade de abertura a novas ideias.

Ouvir é uma habilidade essencial para diretores, gestores, empregados, maridos, esposas, crianças, estudantes, professores, médicos, prestadores de serviços, pessoas que interagem com o público em geral, bem como para qualquer outro ser humano dotado de duas orelhas.

Sem dúvida é a habilidade mais importantes do gestor.

Todos nascem com a capacidade de ouvir, mas, por razões várias, em algum momento de suas carreiras, os gestores esqueceram-se de como usar esse dom inato.

Resultado: a SÍNDROME DO NÃO OUVIR é a queixa mais comum da sua equipe, e também de seus pares e superiores.

Atenção difusa

Alguns dos fatores indutores da síndrome não estão relacionados às atitudes do próprio profissional, mas decorrem da interferência do mundo atual no qual as pessoas estão permanentemente “antenadas”.

O gestor tem à sua esquerda uma tela brilhante originando constantes estímulos da entrada de mensagens, comunicações e informações.

Sobre a mesa, um smartphone alertando para novas chamadas, e-mails, SMS, Whatsapp e outros tipos de mensagens instantâneas.

A situação é ainda pior quando o gestor permanece com o olhar fixado nas telas à sua disposição, ocasionalmente pressionando alguma tecla ou até mesmo escrevendo algum texto e, ao mesmo, incentiva o interlocutor com alguma frase do tipo: “Pode falar que eu estou ouvindo”.

Muito mais do que constrangedora, a situação é catastrófica pois o gestor não está acompanhando um raciocínio mais elaborado.

Pior ainda, quando pinça uma frase que lhe chama a atenção e se concentra em discuti-la, deslocando totalmente o foco do assunto, para desespero do interlocutor.

Problemas de audição

Mais comum do que se imagina é encontrar o gestor com a situação patológica de ser portador de deficiência auditiva.

A perda de audição é um processo lento e contínuo, com alguns sintomas bem característicos:

  • Falar muito alto;
  • Fazer gestos característicos de quem ouve melhor com um dos lados, virando a cabeça para acompanhar o interlocutor;
  •  Sofrer reclamações dos familiares de que a TV está muito alta;
  • Perder parte da conversa pois não ouviu algo que foi dito;
  • Com frequência pedir para que repitam uma frase;

Mas, os problemas mais profundos decorrem de atitudes equivocadas dos gestores as quais têm efeitos devastadores no moral e no engajamento da equipe, prejudicando as relações internas na organização e desmotivando as pessoas.

O gestor não sabe que é um péssimo ouvinte.

Ocorre uma dissonância comportamental, ou seja, a diferença entre as intenções e os comportamentos.

O gestor, com honestidade e de boa fé considera-se um bom ouvinte.

Ele se classifica como uma pessoa interessada em ouvir e em receber a contribuição do grupo e aberta à novas ideias.

Quando submetido aos resultados de uma avaliação 360º sua primeira reação é de indignação, incredulidade e injustiça.

O gestor não entende a importância de ouvir.

Ter a consciência da importância de ouvir requer um alto grau de empatia, no sentido de ser capaz de enxergar o mundo sob a ótica da outra pessoa.

Concentrar-se em ouvir indica respeito, reconhecer o valor do interlocutor como um ser humano digno de atenção, humildade em aceitar que outros podem aportar informações ou conhecimentos importantes e, principalmente, valorizar o outro.

É o mais importante fator para a obter a adesão do grupo.

O gestor com baixa capacidade de ouvir muitas vezes apresenta também problemas em sua vida pessoal, com amigos e família.

O gestor não sabe como ouvir

Os gestores que obtêm baixa avaliação no quesito de “saber ouvir” são os mesmos que declaram reconhecer a importância de ouvir e se consideram bons ouvintes.

Os gestores “borboleteiam” (para entender o termo, basta observar como uma borboleta voa e pousa de flor em flor)

Gestores altamente bem-sucedidos são inteligentes, rápidos, captam os assuntos em segundos, são multifocais e superficiais, com a atenção difusa entre vários assuntos pendentes, todos urgentes e sobre os quais não está disposto a se aprofundar, são impacientes e têm agudo senso de prioridade.

Em decorrência, têm dificuldades em alocar tempo para dedicar sua atenção a uma pessoa, não conseguem resistir ao impulso de pular em frente e terminar a frase ou o raciocínio do outro, começam a mexer com as mãos e torcer o corpo enquanto sua mente voa para outras questões e pensamentos.

Consultar o smartphone ou a tela do computador é um sintoma perigoso de que o gestor está chegando ao seu limite de paciência.

Gestores ouvem seletivamente

De tudo o que o interlocutor fala o gestor somente absorve as frases ou os aspectos do assunto que se encaixam no quadro de suas preocupações do momento.

Eles conseguem o feito incrível de não ouvir e não registrar aquilo que não faz parte do contexto de seus problemas mais imediatos.

Os gestores são preconceituosos e não valorizam as pessoas

Nunca o gestor vai admitir, mas a verdade é que ele não acredita que determinadas pessoas podem aportar qualquer contribuição importante.

Este sentimento é verdadeiro principalmente em relação aos seus subordinados.

Mais ainda, ele não dá valor ao que os outros podem dizer-lhe.

O mais grave é que o interlocutor tem a nítida percepção desse fato e que vê nele uma manifestação de arrogância do gestor.

Mudança de hábito

A única maneira de lidar com esses problemas é, em primeiro lugar, tornar o gestor consciente do impacto negativo que suas atitudes estão provocando no resto do grupo e de quanto isso está se revertendo em perdas de oportunidade de ganhos para a empresa.

Em seguida, há que se auxiliar o gestor a entender o porquê desse seu comportamento, ou seja, as razões ou motivos que o levam à SÍNDROME DO NÃO OUVIR.

Por último, induzir o gestor a adotar uma agenda positiva visando criar as condições necessárias para estabelecer uma boa interlocução, as quais podem incluir:

  • Tentar isolar-se dos estímulos externos, descritos no item Atenção difusa;
  • Estabelecer contato visual olhando o interlocutor nos olhos;
  • Fazer gestos que indiquem compreensão e incentivam o outro a falar, tais como abanar a cabeça de cima para baixo, inclinar-se ligeiramente na direção do outro, manter os braços abertos e o peito projetado para fora, sinalizando postura de abertura;
  • Nunca cruzar os braços, o que é um gesto típico de estar fechado; nunca cruzar a perna para a frente o que, juntamente com os braços cruzados compõe um gesto típico de rejeição;
  • Usar frases encorajadoras, como “Eu compreendo”, “Diga-me mais”, “Entendo”, “hum-hum”, “Estou contigo” etc.
  • Parafrasear, ou seja, periodicamente interromper o interlocutor e repetir parte de suas palavras para ter a certeza de que está entendendo e acompanhando o assunto.
  • Refrear seu impulso de interromper o outro, preferindo anotar os pontos que deseja melhor discutir ou dos quais discorda, abordando-os após a apresentação do interlocutor.

Como toda nova habilidade, esta também requer uma certa dose de determinação, paciência e perseverança, até que se transforme num hábito.

A mais básica de todas as necessidades humanas é a necessidade de compreender e ser compreendido. A melhor maneira de entender as pessoas é ouvindo-as.

Ewaldo Endler

Sócio da Next Steps e da Lifetransitions. Começou como executive search em 1972 e desde então tem desenvolvido uma larga experiência em várias organizações globais. É Coach em transições profissionais: A Conquista do Emprego, Planejamento de Carreira, A Recolocação Profissional, Preparação para Aposentadoria, Onboarding Executivo, Assessor na elaboração do currículo e em networking.