Nós, pessoas com mais de 45 anos (e eu tenho muito mais do que isso!) somos uma geração privilegiada. A nós é dada a oportunidade de conviver e de presenciar a profunda mudança de paradigma que está ocorrendo
na comunicação humana.
Estamos transitando no processo de passar da comunicação escrita para a comunicação pictórica.
É uma revolução! Mas, como ocorreu em todas as revoluções da humanidade, esta também é caracterizada por ser um processo gradual e inexorável. Em decorrência, muitos não se apercebem do processo.
A comunicação escrita, como nós hoje a conhecemos, consolidou-se e se estruturou a partir da grande expansão das relações comerciais que caracterizou a passagem da Idade Média para a Idade Moderna.
Durante a Idade Média poucos eram alfabetizados (nem mesmo os reis sabiam ler e escrever). Na grande massa, a comunicação humana cingia-se ao real e o atual. No cotidiano o vocabulário era tosco e as regras gramaticais frouxas. A erudição ficava restrita aos mosteiros.
A explosão do comércio, principalmente o comércio internacional, criou novas relações, as quais no passado eram quase inexistentes, como contratos futuros, cláusulas condicionais, preços futuros, relações bancárias, empréstimos, contratos de performance ou de risco, seguro
contra perdas de navios ou de cargas etc.
A precisa definição dessas relações, estabelecendo de forma clara e inequívoca direitos, obrigações e as regras de arbitragem de eventuais divergências levou à necessidade da criação das regras gramaticais, que acabaram por permear a comunicação escrita moderna.
Com o advento das redes sociais a comunicação mudou! Ocorre no cotidiano um retorno à Idade Média.
As regras gramaticais forma abandonadas, predicado e verbo não se coordenam mais (originando frases do tipo: “quando você vim, me traz um cigarro”), palavras adquiriram novo sentido (truculento tornou-se ignorante, copular tornou-se transar), o inglês invadiu nossa língua (notícia falsa virou faique nius, mensagem virou i meio, apagar virou deletar, atirador de elite transformou-se em isnaiper, semana da moda é hoje faxion uiqui e assim por diante), outras foram criadas de forma onomatopaica (como é o caso de kkkkk, rsss, pum, buá etc), proliferaram-se os emogis.
A nova linguagem reproduz sons, com todos os seus defeitos gramaticais (ambulância tornou-se bulanci ou bulancia, Guaianazes tornou-se Guaianáis etc). Em resumo, liberou geral!
Não há nenhuma crítica a esse fenômeno. Os linguistas são unânimes em afirmar que se você falou ou escreveu algo e o outro entendeu, isso significa que você se comunicou. E, portanto, o que você disse, ou escreveu, está correto.
Mas, esse fenômeno remete-nos a um outro problema: estamos criando a geração do aqui e do agora, com total superficialidade.
O futuro e o condicional estão se esvanecendo na vida dessas pessoas. Cada vez mais pessoas têm dificuldades de lidar com conceitos e em pensar estrategicamente.
O intercâmbio de fotos, vídeos e mensagens de voz atinge um volume surpreendente. Há pessoas que chegam a enviar até mesmo foto do prato da comida que vão comer! Vidas ficam escancaradas ao conhecimento público!
Uma imagem vale por mil palavras
Entretanto, não há como negar que a comunicação pictórica é muito superior à da escrita.
Tomemos o exemplo da foto do prato de comida.
Instantaneamente, pessoas que a recebem a reconhecem e, mais ainda, o conhecimento é uniforme entre todos, pois todos formam na mente a mesma e única imagem.
A imagem do mesmo objeto, descrita através da comunicação escrita, irá requerer a redação de vários parágrafos para criar no leitor a compreensão do que se está comunicando.
Pior ainda, não haverá uniformidade do conhecimento. Cada um, segundo sua compreensão do texto, formará imagem mental própria, individual, do aspecto desse prato de comida.
A morte do currículos
Quando eu contemplo como essa revolução irá afetar o meu ramo de atividade, que é focado no gerenciamento de carreiras, no desenvolvimento profissional das pessoas e, principalmente, na sua empregabilidade, acabo tendo algumas dúvidas e outras certezas.
O emprego tornou-se uma relação transitória, com duração média de pouco menos que três anos.
Cargos e funções são eliminadas aos milhares, enquanto outras, absolutamente novas, são criadas.
Quase todos terão 3 ou 4 profissões ao longo da vida. Acompanhar a mudança, antecipar-se aos novos desafios e se manter profissionalmente viável no mundo exigirá atualização, lidar com princípios e conceitos bem como visão estratégica de futuro.
Tudo isso vai na contramão da tendência ao superficialismo da comunicação baseada em redes sociais, que predomina na vida das gerações mais recentes.
O elemento mais presente e mais visível das tendências do novo modelo de relações sociais é, sem dúvida, a morte do currículo como nós o conhecemos atualmente.
Enviar para o selecionador um vídeo com 30 seg. de duração através do qual o profissional se apresenta é muito mais eficaz do que enviar um texto com nome, endereço, estado civil, formação educacional etc.
Enviar fotos, gráficos e apresentação Power Point das suas realizações, bem como o extrato do organograma da empresa mostrando onde no mesmo o profissional se posiciona etc. é muito mais preciso e mais uniformizador do conhecimento do que um texto de duas laudas sobre as qualificações do candidato.
Será necessário abandonar a tradicional comunicação escrita e substituí-la pela comunicação pictórica, porque é assim que as novas gerações se comunicam.
O velho e bom currículo de papel, formal, com regras rígidas de seriedade e comedimento ainda vai sobreviver durante alguns anos, pois temos que aguardar a eliminação dos dirigentes em processo esclerótico de envelhecimento. Mas, a mudança virá e todos terão que mudar!
Durante algum tempo ainda, todos terão que conviver em parte de sua carreira com a coexistência dos dois paradigmas.
Devem, então, se preparar desde já para esse futuro, no mínimo criando o seu site pessoal.
Isso posto, será necessário inserir no currículo tradicional os hiperlinks que remetam o leitor para as partes do site que ilustrem sua apresentação pessoal, suas qualificações e suas realizações.
No mais, é simples questão de acompanhar a evolução.
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